Abaixo, uma ótima reportagem sobre Proposta pedagógica e planejamento, vale a pena conferir!
Proposta pedagógica e planejamento: as bases do sucesso escolar
Para oferecer um ensino adequado às necessidades de seus alunos, a escola precisa saber o que quer, envolvendo a equipe e a comunidade na definição das metas
Lucita Briza (novaescola@fvc.org.br)
O que faz uma escola ser bem-sucedida? Como uma escola estadual do interior de Santa Catarina conseguiu dobrar de um ano para o outro a jornada de todos os alunos de2ª, 3ª e 4ª sériescom sucesso? Qual a receita de uma escola particular criada há 40 anos na capital de São Paulo para permanecer atual a ponto de ser considerada um centro de referência? Embora atuando em regiões diferentes e seguindo modelos educacionais distintos, ambas atribuem os bons resultados à mesma razão: a proposta pedagógica, construída coletivamente e concretizada num bom planejamento. A proposta pedagógica é a identidade da escola: estabelece as diretrizes básicas e a linha de ensino e de atuação na comunidade. Ela formaliza um compromisso assumido por professores, funcionários, representantes de pais e alunos e líderes comunitários em torno do mesmo projeto educacional. O planejamento é o plano de ação que, em um determinado período, vai levar a escola a atingir suas metas. Do planejamento, depois, sairão os planos de aula, adaptados ao cotidiano em classe.
Pequena Constituição
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996 diz que a proposta pedagógica é um documento de referência. Por meio dela, a comunidade escolar exerce sua autonomia financeira, administrativa e pedagógica.Também chamada de projeto pedagógico, projeto político-pedagógico ou projeto educativo, a proposta pedagógica pode ser comparada ao que o educador espanhol Manuel Álvarez chama de "uma pequena Constituição". Nem por isso ela deve ser encarada como um conjunto de normas rígidas. Elaborar esse documento é uma oportunidade para a escola escolher o currículo e organizar o espaço e o tempo de acordo com as necessidades de ensino. Além da LDB, a proposta pedagógica deve considerar as orientações contidas nas diretrizes curriculares elaboradas pelo Conselho Nacional da Educação e nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Para Álvarez, o ideal é que o documento seja o resultado de reflexão coletiva. E como chegar ao consenso? "Proporcionando espaços para que cada uma das partes exponha seus objetivos e interesses com base nos princípios educativos com os quais todos concordam", diz o educador. Esse esforço conjunto harmoniza as diferenças entre os grupos que compõem a escola. Um dos desafios para chegar a bom termo nessa elaboração, observa o educador francês Bernard Charlot, é manter a coerência entre a teoria e a prática. "De que vale um discurso pedagógico do tipo construtivista e práticas que o contradizem?", questiona Charlot. Manter a proposta pedagógica e o planejamento escolar atualizados é a recomendação feita pela educadora Madalena Freire, de São Paulo. "Tanto a proposta como o planejamento são processuais e devem correr em paralelo com a construção do conhecimento", diz ela. Isso impede que os dois documentos se transformem em instrumentos engavetados, só revistos no fim do ano. Essa burocratização leva muitos professores a considerar ambos como desnecessários e inviáveis. "O planejamento serve como roteiro para os professores, permitindo aplicar no dia-a-dia a linha de pensamento e ação da proposta pedagógica", afirma Ilza Martins Sant'Anna, professora da Faculdade Porto-Alegrense de Educação, Ciências e Letras. O que não significa determinar uma forma única de planejar todas as disciplinas: a avaliação dos erros e acertos é que vai permitir a melhor escolha. Para planejar, observa Madalena, é importante cada professor dominar o conteúdo de sua matéria - mas isso de nada valerá se ele não escutar os alunos e não valorizar o que já conhecem. O professor deve sempre se perguntar: o que meus alunos já sabem? O que ainda não conhecem? O que, como e quando ensinar? Onde ensinar? Com base nas respostas, ele propõe atividades que façam sentido para os estudantes daquela comunidade. Se for uma aula de literatura, por exemplo, lembre-se de que os alunos de uma escola da periferia não têm o mesmo contato com livros que os de uma escola de classe média. Você precisa valorizar o saber do grupo e, após cada atividade, refletir sobre sua prática. Em vez de atribuir aos alunos incapacidade de aprender, o ideal é que você analise as próprias inadequações ao ensinar.
Revisão periódica
Geralmente feito no início do ano ou do semestre para abranger todo o período, o planejamento pede acompanhamento constante, na opinião de Madalena. O trabalho deve ser reavaliado em reuniões quinzenais com a participação de toda equipe e sob a liderança do coordenador. Uma primeira avaliação geral pode ser feita no final do primeiro bimestre para corrigir desvios e lançar bases para o resto do período. Nesse momento, os professores checam se os conteúdos são fundamentais para o aprendizado; se há articulação entre os segmentos (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio); se as reuniões pedagógicas estão sendo bem aproveitadas e se o planejamento favorece o envolvimento da família e da comunidade na escola. Veja, abaixo, as experiências de duas escolas bem-sucedidas.
"Achamos importante substituir uma proposta de gabinete por outra que tivesse mais a cara da escola"
Marilú Maldaner Ghiozi, diretora da Escola de Educação Básica Frei Nicodemos, em Lages (SC). Foto: Sandro Bohneberger
Escola Frei Nicodemos
"Uma das vantagens do planejamento coletivo é a maior integração do trabalho dos docentes; o difícil é fazer uma idéia obter a aprovação da maioria"
A Escola Estadual de Educação Básica Frei Nicodemos, em Lages (SC), foi aberta para receber filhos de trabalhadores que vivem num conjunto habitacional e em casas precárias que surgiram nos arredores. Mesmo com classes superlotadas, era preciso oferecer educação de qualidade para combater a repetência e a evasão.
Quando Marilú Maldaner Ghiozi assumiu a direção, em 2003, havia apenas uma proposta pedagógica montada sem a participação da comunidade. A primeira providência de Marilú foi convocar professores, funcionários, representantes de pais, de alunos e da comunidade para uma ampla discussão em pequenos grupos. Em uma semana de reuniões, o grupo formulou uma proposta de fácil compreensão, entregue a todos.
Inglês, Informática e Dança
A próxima tarefa era planejar o ano letivo com base no questionário respondido pelos pais. Eles queriam que a escola oferecesse ensino mais amplo - como língua estrangeira - já que não podiam pagar cursos extras. Por isso e pela baixa escolaridade da comunidade, a escola foi uma das escolhidas pelo governo para a implantação do projeto Escola Pública Integral (EPI). Decidiu-se em reuniões que a experiência começaria com classes de 2a, 3a e 4a séries.
Enquanto eram realizadas obras para adaptar o prédio, a equipe pedagógica participava das reuniões de planejamento, conta a professora da 4a série, Rosires Duarte Chaves. Todos os professores levaram sugestões de projetos e decidiram como integrar o currículo às atividades extras. De comum acordo com os pais, foram escolhidas para compor o período integral aulas de Inglês, Informática e Dança. A escola ganhou laboratório de Ciências, brinquedoteca e salas para estudo orientado em Matemática e Língua Portuguesa.
Em reuniões periódicas, novas sugestões apareceram para melhorar ou alterar as anteriormente aprovadas. Assim, ficou decidido que as atividades extras seriam alternadas com as curriculares e que o professor de classe deveria assumir todas as matérias do currículo básico, só deixando as novas atividades por conta de especialistas. As reuniões trimestrais passaram a ser quinzenais.
No final do ano, a avaliação dos pais mostrou que as mudanças foram positivas. A média dos alunos em Matemática, leitura e escrita melhorou e houve muita procura pelas aulas de Inglês e Informática. "Conseguimos atender as crianças que estavam em defasagem idade-série", diz a professora Eliane Sari Coelho, uma das responsáveis pelas horas de estudo orientado. Para a diretora, a Frei Nicodemos está cumprindo sua proposta de inclusão social. "Garantimos os resultados porque todos vestiram a camisa do projeto."
"Nossa proposta pedagógica e nossa escola são uma só coisa; mas até ela ser formalizada demorou"
Sylvia Gouvêa, diretora da Escola Nova Lourenço Castanho, em São Paulo. Foto: Gustavo Lourenção
Características de um bom planejamento
Para que o planejamento contemple aprendizagens para todos, ele deve:
- Operacionalizar os conteúdos fundamentais para a escola.
- Garantir a articulação entre todos os segmentos escolares (desde a Educação Infantil até o Ensino Médio) e entre as áreas de conhecimento.
- Prever tempo para formação docente e para reuniões pedagógicas.
FONTE:http://revistaescola.abril.com.br/formacao/proposta-pedagogica-planejamento-bases-sucesso-escolar-424816.shtml
Beijos
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